O Que a Bíblia Ensina Sobre SEXO?

O Que a Bíblia Ensina Sobre SEXO?

O Que a Bíblia Ensina Sobre SEXO?


I. Caracterização Geral

Embora a palavra sexo não seja mencionada na Bíblia, o tema ocupa um espaço muito amplo nessa coleção de documentos, e tudo o que há de bom e de ruim relacionado a isso é descrito de forma explícita. Os hebreus não eram um povo puritano. Na verdade, eram um povo do vinho, das mulheres e da canção. Confinar o sexo dentro do casamento exigia a instituição do concubinato, que, de modo geral, tinha regras muito frouxas, portanto o ideal (da Criação) de um homem para uma mulher na prática quase nunca teve efeito. Apenas as mulheres estavam limitadas a um único homem. O ideal original de Gên. 1.26-28 era que houvesse uma união entre um homem e uma mulher e que essa união tivesse o propósito da procriação, pois era obrigação deles "frutificar e multiplicar". Jesus aprovou o plano original como sendo parte do esforço contra o abuso (Mat. 19.4.8).

Os casamentos restritos tinham por propósito produzir a "raça de Abraão" (culminando nos hebreus e então nos judeus) como um povo distinto, que participou dos diversos pactos (Abraârnico, Mosaico, Palestino etc.; ver o artigo Pactos). Havia um propósito espiritual que não poderia ser cumprido se as leis do casamento permitissem a livre mistura com outros povos, pois isso anularia um povo especial a longo prazo. A ameaça da extinção da linhagem biológica de um povo era o temor comum dos povos antigos do Oriente Médio e pragas de tratados sempre traziam esse temor à tona. Ver Deu. 28.18, 32; Jos. 6.26; Sal. 109.13. Um motivo para o medo era que a continuação da linhagem, família ou raça de uma pessoa possibilitava um tipo de imortalidade biológica nos dias em que a doutrina da imortalidade da alma ainda não havia sido desenvolvida. Leis de herança (ou famílias e tribos dentro de uma nação) eram um reforço da esperança da imortalidade biológica.

O concubinato era um auxílio ao desejo da "grande raça" e, enquanto fosse confinado a uma tribo ou nação à qual alguém pertencia, era prática favorecida. Mas o adultério ameaçava a pureza de linhagens específicas de famílias e tribos, e o casamento misto com estrangeiros tendia a ser um tipo de suicídio coletivo.

A virgindade antes do casamento era fator crucial para mulheres no Antigo Testamento, mas aparentemente não era respeitada para homens. Isso ajudava a evitar a confusão das linhagens familiares e, em sua essência, servia aos mesmos propósitos das leis contra o adultério. A procriação era tratada como um bem sem qualificação, contanto que mantida dentro das leis indicadas acima. O casamento era considerado o estado normal para homens e mulheres. O celibato era absolutamente estranho à mentalidade hebraica e judaica e, longe de deixar um homem mais qualificado espiritualmente, era considerado um dano ao homem e à sociedade. Os líderes judeus eram quase necessariamente homens casados, e a família era muito mais importante do que alguma piedade artificial e pessoal que possa ter sido promovida através do celibato.

II. Observações do Antigo Testamento

1. Ao criar o homem e a mulher, Deus foi a origem da sexualidade humana (Gên. 1.27), sexualidade que alguns sedutores perverteram para servir como desculpa para seus excessos, mas que outros corretamente empregam para demonstrar que nada há de errado com o sexo per se.

2. A criação do homem e da mulher implica uma diferença de estado e ordem que é declarada abertamente em Gên. 3.16 e reiterada em termos claros por Paulo em I Cor. 11.3 e por Pedro em I Ped. 3.1.

3. No casamento, os dois parceiros têm obrigação de prover satisfação sexual um ao outro, ato que pode estar subordinado à procriação (Gên. 1.22, 28; 8.17), ou meramente dar prazer, que é um fator necessário à saúde e à manutenção de um ego respeitável (I Cor. 7.5).

4. A família é o objeto do sexo (Esd. 8.1-14), algo ilustrado pela quase obsessão demonstrada pelos hebreus e judeus em relação às genealogias.

5. O homem é o líder da família não meramente por motivos tribais, mas também p!lra liderança e
desenvolvimento espiritual (Oên. 3.16; Exo. 12.1-6; 20.12; Deu. 6.20-25).

6. O pai era o sacerdote da unidade da família até que foi desenvolvido um sacerdócio formal. Quando isso aconteceu, apenas homens eram sacerdotes aceitáveis e isso foi limitado ainda mais aos descendentes de Levi, através de Arão (Êxo. 19.22; Lev. 1.11).

7. Lideres espirituais especiais, os profetas, eram de modo geral, homens, mas havia exceções a essa regra (Exo. 15.20; Juí. 4.4; II Reis 22.14; II Crô. 34.22; Nee. 6.14; Isa, 8.3).

8. A distinção entre homens e mulheres era mantida de diversas formas, incluindo a regra de que a mulher não podia usar roupas masculinas e de que os homens não poderiam usar roupas tipicamente femininas (Deu. 22.5). Em um momento posterior, os estilos de cabelo também foram objeto de regras (I Cor. 11.14), mas a história nos mostra que na maioria dos povos os homens usavam cabelos longos, exceto entre os egípcios, que não gostavam de cabelos. Os homens não podiam cortar os cabelos laterais, pois esse era o estilo de cabelos pagão (Lev. 21.5).

Apenas na Diáspora (dispersão) foi que os homens judeus imitaram os estilos romanos para os cabelos, incluindo o corte, mas as mulheres continuaram mantendo cabelos longos. As tribos gregas mantinham práticas de cabelos longos e curtos para homens. A declaração de Paulo em 1 Cor. 11.14 reflete-se a costumes posteriores, não aos do Antigo Testamento.

9. A criação da mulher a partir da costela (Gên. 2.21, 22) ilustra o papel dominante do varão e também que a mulher deveria ser uma "ajudante" do homem (2.20). A mulher existia para propósitos utilitários e encontrava sua plenitude nesse serviço. O principal serviço da mulher era ter filhos e educá-los (Gên, 3.14-16).

10. As mulheres podiam e deveriam ter ocupações diferentes, mas sempre centradas na família (Pro. 31.1031). Elas poderiam ganhar dinheiro, mas trabalhando em casa.

11. A Bíblia culpa as mulheres pela entrada do pecado no mundo (Gên. 3.1-6) e isso levou à degradação da mulher na psique hebraica e judaica, a ponto de alguns rabinos chegarem a duvidar de que as mulheres tivessem alma. Até mesmo a dor do parto era atribuída ao pecado (3.1516), não a uma característica inadequada da anatomia feminina para o parto.

III.Tipos de Casamento

1. Monogamia era o ideal original, mas ele foi logo perdido, pois os homens passaram a praticar casamentos plurais e concubinato (Gên. 1.27; caps. 15-16). A poligamia de Abraão sem dúvida refletia uma instituição já estabelecida, não uma exceção para a geração de um herdeiro.

2. Poligamia. Casamentos plurais e concubinato logo dominaram o cenário doméstico, que, na história bíblica, começou com Abraão e dominou todos os patriarcas, com a possível exceção de Isaque, já que não se menciona especificamente que ele tenha tido .mais de uma mulher. As mulheres mais afluentes tinham escravas, que automaticamente se tomavam parte do "círculo familiar" e estavam disponíveis aos homens, como no caso ilustrado de Jacó (Gên.30.1-5). Raquel contava os filhos de sua escrava como se fossem dela e como uma dádiva de Deus (30.6). Portanto, foi assim que Israel, a nação, se originou de duas esposas, Raquel e Lia, e de suas escravas, Bila e Zilpa. O negócio da poligamia floresceu e, de fato, abusaram dele, como foram nos casos de Davi e Salomão (I Sam. 25.29-43; 27.3; 11 Sam. 3.2-5). Isto resultou em adultério espiritual (Deu. 17.17; I Reis 11.1-7).

3. Endogamia. Essa palavra significa limitar o casamento à tribo, à casta ou ao grupo social, e essa foi a forma de casamento exigida de Israel (Êxo. 34.15-16; Deu. 7.3-6; Jos. 23.11-13), mas o casamento misto com estrangeiros era praticado comumente a despeito da consternação dos profetas. Considere-se o caso de Sansão (Juí. 13-16) e o caso radical do rei Salomão (I Reis 11.17). A exogamia (casamento fora da família, casta, tribo ou nação) tornou-se prática comum entre os judeus da Diáspora, mas foi denunciada violentamente e anulada após o retomo dos exílios do cativeiro babilônico (Esd. caps. 9-10; Nee. 10.28-30). Cf. o relato em Atos 16.1-3; 24.24.

4. A homossexualidade, a bestialidade e a contracepção eram proibidas diretamente ou por inferência. Dou um artigo detalhado sobre o Homossexualismo na Enciclopédia de Bíblia, 'Teologia e Filosofia. Ver ainda os artigos Bestialidade e Onã. Tais práticas eram consideradas destrutivas para o relacionamento do casamento. Cf. as atitudes de Paulo em Rom. 1.26-27.

5. Sexo antes do casamento e adultério. A atividade sexual do homem antes do casamento não foi assunto de crítica no Antigo Testamento, mas a da mulher trazia a ela sérios problemas. A atividade sexual de uma mulher antes do casamento, independentemente de ela ganhar ou não dinheiro por seus atos, era chamada pelo mesmo nome em hebraico, zana, que pode comumente ser traduzido usando a palavra fornicação. Mulheres que fizessem isso seriam consideradas cidadãs de segunda categoria, e a filha de um sacerdote foi queimada por esse motivo (Lev. 2 I. 9, cf. Gên. 38.24). O adultério, é claro, foi proibido tanto a homens como a mulheres, mas os casamentos plurais e o concubinato não eram classificados como adultério.

Adultério era manter relações sexuais entre pessoas casadas e outras. Ver Êxo. 20.14, 17; Lev. 18.20; 20.10; Núm. 5.1131; Deu. 22.22-29; Mal. 5.32.

6. Incesto. Lev. 18 é uma denúncia detalhada de diversos tipos de incesto e, no Antigo Testamento Interpretado, no início desse capítulo, forneço um gráfico que ilustra tipos de incesto e as várias punições dadas a tal ação. O incesto era (é) uma forma agravada de adultério (na maioria dos casos). O capítulo 20 dá outros detalhes sobre o problema do incesto.

7. Estupro. Na maioria dos casos, esse mal é incestuoso, tanto na Bíblia como em tempos modernos no Brasil, mas de qualquer forma é condenado. Ver o artigo sobre Crimes e Castigos (I1.d.4) para maiores detalhes. O estupro é um dos tipos mais violentos de opressão social. A sedução é uma forma não-violenta de estupro. Todas essas práticas violam o ideal do casamento. Para uma declaração mais detalhada, ver o artigo sobre Matrimônio, que trata com os tópicos desta seção de forma mais completa.

IV. No Período Greco-romano

Embora Filo (20 a. C. a 50 d. C.), o estudioso judeu helenizado, tenha colocado o adultério no topo da lista dos Dez Mandamentos, afirmando que era o mais sério de todos os pecados (De Dec. 121, 131), teve pouco apoio para essa tese tanto na sociedade pagã (greco-romana) como na sociedade judaica da época. O mesmo autor também condenou qualquer forma de atividade sexual que não fosse exclusivamente para a procriação (Spec, Leb. 3.32-36). Tal atitude exagerada foi seguida pelos essênios, muitos dos quais aderiram ao celibato, supondo que qualquer forma de atividade sexual fosse poluente (Apol. 14-17; Josefo, Guerras, 2.8.120-21; Ant. 18.121).

A raridade de esqueletos de jovens e mulheres nos cemitérios de Qumran demonstra que a maior parte daquela comunidade (que provavelmente incluía muitos essênios) praticava o que pregava. Por outro lado, o pagão daquela época não via mal algum na fornicação e, embora condenasse o adultério, não se considerava atado às próprias regras. E, assim, a abstinência radical andava lado a lado com a promiscuidade quase total.

v. Observações do Novo Testamento

O Novo Testamento preservou as atitudes judaicas do Antigo Testamento relativamente ao sexo. Mas também podem ser observadas as radicalizações das idéias de Filo e dos essênios. Jesus condenou as atitudes por trás dos atos, incluindo os pecados sexuais, e assim apresentou um código ético mais profundo (Mat. 5.27-32; 15.1920). Embora seu código tivesse mais percepção, também apresentava mais misericórdia, o que é ilustrado por Seu desejo de perdoar em vez de participar na matança da
mulher adúltera (João 8.1-11).

Paulo foi um pioneiro nos direitos da mulher, ignorando as antigas atitudes judaicas de "homens apenas para a maioria das coisas". Ver Gál. 3.28: "Não há judeu, nem grego; não há escravo nem livre; não há homem nem mulher; porque todos vós sois um em Cristo Jesus". Paulo injetou um significado místico na união do casamento, sugerindo haver uma combinação de energias vitais que transformava duas pessoas numa só, de uma forma indefinida mas real, mística (Efé, 5.31, 32). Ainda
assim, o homem continua sendo o líder da mulher, bem como Cristo é o líder do homem (Efé. 5.23). Como há um tipo de união mística e compartilhamento de energia no ato sexual, o cristão deve tomar cuidado com tal união com uma mulher lasciva (I Cor. 6.15). O corpo de um homem tomou-se um templo para o Espírito, assim ele deve evitar infrações externas (I Cor. 6.14-16).

Não pode haver dúvida sobre o fato de que Paulo pensava que a vida de celibato era superior à vida de casado para aquele que busca espiritual idade intensamente (I Cor. 7.1, 7-9), e tais visões também eram atribuídas a Jesus (Mal. 19.10-12). Essas atitudes provavelmente refletem as de Filo e a dos essênios, que tiveram grande influência no pensamento judaico-cristão do primeiro século. Ver Mal. 8.21-22; 10.34-37; 19.1012; Luc. 8.19-21. Os primeiros cristãos, como os essênios, supunham viver às vésperas do esforço final entre a escuridão e a luz. portanto os apelos feitos a uma vida celibatária eram convincentes para alguns, como foram os chamados "sentimentos antifamiliares", Condições para continuar a vida como sempre deixaram de existir para uma igreja que era continuamente perseguida. Novos caminhos espirituais eram buscados para o seguidor ávido. Um desses caminhos era esquecer o casamento e o sexo e devotar-se às questões espirituais sem os empecilhos das coisas comuns. Levando coisas aos extremos, alguns fundaram monastérios e ordens monásticas como sistemas de apoio para os "seguidores superiores".

Por outro lado, para poucos seletos, a vida monástica pode ser o melhor caminho. A filosofia ensina que todas as generalizações são falsas. Desse ponto de vista, podemos presumir que generalizar a prática do celibato e forçar isso em um sacerdócio geral também é prática precária. Ver na Enciclopédia de Bíblia. Teologia e Filosofia O artigo Celibato. para um tratamento completo do assunto.