Estudo sobre 1 Coríntios 5:1-13

Estudo sobre 1 Coríntios 5
Estudo sobre 1 Coríntios 5
PECADO E COMPLACÊNCIA
Estudo sobre 1 Coríntios 5:1-8

Nesta passagem Paulo aborda o que para ele era um problema que se repetia sempre. Em matéria sexual os pagãos não conheciam o significado da castidade. Encontravam o prazer quando e onde queriam. Era muito difícil que a Igreja cristã escapasse da infecção. Os cristãos eram como uma pequena ilha de cristianismo rodeada por todos lados por muito paganismo, tinham entrado fazia bem pouco tempo ao cristianismo, era muito difícil despojar-se das práticas que tinham sido parte da vida de gerações de libertinos; e entretanto, se a Igreja queria permanecer pura devia despedir-se finalmente de todos os costumes pagãos. Na Igreja de Corinto surgiu um caso especialmente escandaloso. Um homem formou uma união ilícita com sua madrasta, coisa que era repugnante até para os pagãos e que estava explicitamente proibida pela lei judia (Levítico 18:8). Pela forma em que está expressa a acusação bem pode ter sido que esta mulher já estivesse divorciada de seu marido. Deve ter-se tratado de uma pagã, pois Paulo não se refere a ela, devido ao fato de que estava fora da jurisdição da Igreja.

Escandalizado como estava em face deste pecado, estava-o ainda mais em face da atitude da igreja de Corinto com respeito ao pecador. Tinham aceito complacentemente a situação e não tinham feito nada. Deveriam ter-se sentido comovidos em face dela. A palavra que Paulo usa para a tristeza que teriam que ter demonstrado (penthein) é a que se utiliza quando se chora um morto. Uma atitude complacente em face do pecado sempre é perigosa. Tem-se dito que nossa segurança contra o pecado reside no fato de que nos escandalizamos com ele.

Carlyle disse que os homens devem ver a beleza infinita da santidade e a condenação infinita do pecado. Quando deixamos de ter uma séria visão do pecado estamos em uma posição perigosa. Não se trata de criticar e condenar. Trata-se de mostrar-se ferido, surpreso e machucado. O pecado crucificou a Cristo; Ele morreu para libertar os homens do pecado. Nenhum cristão pode considerar com leviandade o pecado.

O veredicto de Paulo é que se deve fazer algo com esse homem. Em uma frase vívida diz que deve ser entregue a Satanás. Significa com isto que deve ser excomungado. Considerava-se o mundo como o domínio de Satanás (João 12:31; 16:11; Atos 26:18; Colossenses 1:13) em contraposição à Igreja que era o domínio de Deus. O veredicto de Paulo é que se envie de novo este homem ao mundo de Satanás ao qual pertence. Mas devemos notar que até um castigo tão sério como este não era reivindicativo. Tratava-se de humilhar o homem, de domar e erradicar suas paixões de modo que no final seu espírito pudesse ser salvo. Tratava-se de fazê-lo repensar, de fazê-lo ver a enormidade do que tinha feito. Era uma disciplina que se exercitava não só para castigar, mas também para despertar. Era um veredicto que devia levar-se a cabo, não com uma crueldade sádica e fria, mas sim com dor por alguém que morreu. Sempre atrás do castigo e a disciplina, na igreja primitiva, estava a convicção de que devia levar-se a cabo com o propósito, não de destroçar, mas sim de refazer o homem que tinha pecado,

Logo Paulo dá alguns conselhos práticos. Nos versículos 6-8 a Nova Versão Internacional (NVI), diferente de algumas outras, dá a tradução literal do original. Aqui nos encontramos com uma imagem expressa em termos judeus. Na literatura judia, salvo poucas exceções, o fermento representa más influências. A levedura é massa fermentada que se guarda de uma fornada anterior. Os judeus identificavam a fermentação com a putrefação. De modo que o fermento significava uma influência putrefaciente e corruptora. O pão da Páscoa era sem fermento (Êxodo 12:15 ss.; 13:7). Porém mais que isso, a lei estabelecia que no dia anterior ao da festa da Páscoa os judeus deviam acender uma vela e buscar cerimonialmente a levedura pela casa, e atirar até o último pedaço dela. (Ver a imagem da busca de Deus em Sofonias 1:12) (Devemos notar que a data desta busca era em quatorze de abril e que nela se viu a origem da grande limpeza da primavera).

Antes da Páscoa se devia eliminar os últimos restos de levedura. Assim, pois, Paulo toma esta imagem. Diz que nosso sacrifício — Cristo — foi realizado; foi o seu sacrifício que nos libertou do pecado, assim como Deus libertou os israelitas do Egito. Portanto — continua — devemos tirar de nossas vidas os últimos rastros de maldade. Se deixarmos que uma má influência penetre na Igreja, pode corromper toda a sociedade, assim como o fermento penetra em toda a massa. Aqui mais uma vez nos encontramos com uma grande verdade prática. Às vezes é preciso exercer a disciplina pelo bem da Igreja. Nem sempre é bom fechar nossos olhos perante as ofensas; elas podem nos prejudicar. O veneno deve ser eliminado antes de que se expanda, a erva daninha deve ser arrancada antes de poluir toda a terra.

Aqui nos encontramos com um grande princípio de disciplina. A disciplina não deve ser exercida para a satisfação da pessoa que a aplica, mas sempre deve usada para corrigir a pessoa que pecou, e sempre pelo bem da igreja. Nunca deve ser vingativa, deve ser sempre preventiva e curativa.

A IGREJA E O MUNDO
Estudo sobre 1 Coríntios 5:9-13

Parece que Paulo já tinha escrito uma carta aos coríntios insistindo com eles para evitarem associar-se com homens maus. Isto era destinado a aplicar-se aos membros da Igreja, queria dizer que os homens pecadores deviam ser disciplinados, apartando-os da sociedade da Igreja até que corrigissem sua conduta. Mas ao menos alguns dos coríntios creram tratar-se de uma proibição absoluta, e é obvio, tal proibição só podia cumprir-se com a separação total do mundo. Em um lugar como Corinto teria sido impossível levar a cabo uma vida normal sem associar-se nos assuntos cotidianos com aqueles cujas vidas a Igreja condenava totalmente. Mas Paulo nunca quis dizer isto: nunca teria recomendado a um cristão que se separasse do mundo; para ele o cristianismo era algo que tinha que viver-se no mundo. Um piedoso ancião disse uma vez a João Wesley: "Deus não conhece a religião solitária." E Paulo teria estado de acordo com isso. É muito interessante considerar os três pecados que Paulo assinalou como típicos do mundo. Menciona três tipos de pessoas.

(1) Fala sobre os fornicários, aqueles que eram culpados de degradação moral. Só o cristianismo pode garantir a pureza. A raiz da imoralidade sexual é um conceito equivocado dos homens, que no final os considera como bestas. Declara que as paixões e os instintos que compartilham com os animais devem ser gratificados sem vergonha. Considera as outras pessoas simplesmente como instrumentos através dos quais se pode obter essa gratificação. Enquanto o cristianismo considera o homem como um filho de Deus, e justamente devido a isso, como uma criatura que vive no mundo mas que sempre olha para além do mundo, como uma pessoa cuja vida não está determinada puramente pelas necessidades, desejos e normas físicas, que embora tenha corpo também tem espírito. Se os homens se considerassem a si mesmos e a outros como filhos e filhas de Deus desapareceria automaticamente da vida a lassidão moral.

(2) Fala sobre os avarentos e ambiciosos dos bens deste mundo. Mais uma vez, só o cristianismo pode destruir esse espírito. Se julgarmos as coisas com base em medidas puramente materiais, não há razão para que não tomemos como medida nossos próprios interesses, não há razão para que não dediquemos nossa vida à tarefa de conseguir mais. Mas o cristianismo introduz na vida o espírito que olha para fora e não para dentro. Faz do amor o valor mais alto na vida, e portanto do servir a maior honra. Quando o amor de Deus está no coração de um homem encontrará alegria, não em receber, mas sim em dar.

(3) Fala sobre a idolatria. A idolatria antiga poderia comparar-se com a superstição moderna. Poucas épocas estiveram tão interessadas em amuletos, talismãs e objetos que trazem sorte, em astrólogos e horóscopos como a época atual. A razão é a seguinte: uma regra básica da vida é que o homem deve adorar alguma coisa. E a não ser que adore ao Deus verdadeiro, ele se inclinará perante os deuses da sorte e da oportunidade. Sempre que a religião se debilita, fortalece-se a superstição.

Devemos notar que estes três pecados básicos do mundo representam as três direções nas quais o homem peca.

(a) O pecado da fornicação é um pecado contra o próprio ser do homem. Ao cair, ele se reduziu ao nível de um animal, pecou contra a luz que está nele e contra o melhor que conhece permitiu que sua natureza inferior derrote o mais elevado de si mesmo e se converteu em algo menos que um homem.

(b) O pecado do espírito avarento e ambicioso é nossos vizinhos e os que nos rodeiam. Considera os seres humanos como pessoas que podem ser exploradas, em lugar de vê-los como irmãos que devem ser ajudados. Esquece que a única prova de que amamos a Deus deve ser o fato de que amamos os que nos rodeiam como a nós mesmos.

(c) O pecado da idolatria é contra Deus. Permite que os objetos usurpem o lugar de Deus. Significa abandonar o Deus verdadeiro por falsos deuses. É não dar a Deus o primeiro e único lugar na vida.
Um dos princípios de Paulo é que não devemos julgar aqueles que estão fora da Igreja. A frase "os de fora" era uma frase judia que se usava para descrever as pessoas que não pertenciam ao povo escolhido. Devemos deixar que sejam julgados por Deus, único que conhece o coração dos homens. Mas o homem que está dentro da Igreja tem privilégios especiais e portanto responsabilidades especiais, tem a seu cargo diversas tarefas que dependem de seu livre-arbítrio e portanto deve responder por elas, é um homem que tem feito um juramento e uma promessa perante Cristo e que portanto pode ser chamado a contas pela forma em que os guarda.

Assim, pois, Paulo finaliza com uma ordem definida: “Expulsai, pois, de entre vós o malfeitor.” Trata-se de uma citação de Deuteronômio 17:7 e 24:7. Há momentos em que o câncer deve frear-se, devem tomar medidas drásticas para evitar a infecção. O que move a Paulo não é o prazer de aplicar uma lei severa ou o desejo de ferir ou demonstrar seu poder; trata-se do desejo do pastor de proteger a sua Igreja nascente da infecção do mundo que sempre a ameaça.