PAULO (Apóstolo)

PAULO (Apóstolo)



PAULO, (Apóstolo)


Em grego Παῦλος (Paulos), derivado do latim Paulus, que quer dizer “pequeno”. Nome do grande apóstolo dos gentios. O nome judaico anterior era Saulo; no hebreu, Shaul, no grego, Saulos; assim denominado nos Atos dos Apóstolos, mesmo até depois da conversão de ‘Sergio Paulo, procônsul de Chipre’, At 13.9. Daqui em diante, só tem o nome de Paulo, que ele a si mesmo dá em todas as suas cartas. Não é de estranhar que alguns pensem que o apóstolo tomou este nome do procônsul Sergio. Isto, porém, não é de modo algum aceitável, tendo em vista o modo gentil pelo qual S. Lucas o apresenta, dando-lhe o nome gentílico de Paulo, quando começou a sua obra de apóstolo das gentes. É mais provável que, acompanhando o costume de muitos judeus, At 1.23; 12.12; Cl. 4.11, e principalmente os judeus da dispersão, o apóstolo usasse de ambos os nomes.

Havia nascido em Tarso, cidade principal da Cilicia, At 9.11; 21.39; 22.3, e pertencia à tribo, de Beijamin, Fp 3.5. Não se sabe como e porquê que a sua família foi residir em Tarso. Uma antiga tradição afirma que ele havia sido levado de Giscala na Galileia, pelos romanos, depois que tomaram este último lugar. É possível, pois, que a família de Saulo, em tempos anteriores, tivesse fixado residência em Tarso, com alguma das colônias que os reis da Síria estabeleceram ali (Ramsay, St. Paul the Traveler, p, 31) ou que tivesse imigrado voluntariamente, como faziam muitos judeus por motivos de ordem comercial. Parece que S. Paulo tinha relações familiares de alto valor e de grande influência. Em Rm 16. 7, 11, manda saúda a três pessoas, seus parentes, das quais Andrônico e Junias, que se haviam assinalado entre os apóstolos e que foram cristãos primeiro que ele. Pela leitura de At 23.16 sabe-se que “um filho, de sua irmã”, que provavelmente morava em Jerusalém com sua mãe, deu informações ao tribuno sobre a conspiração tramada contra a vida de S. Paulo.

Da isto a entender que este moço pertencia à alguma das famílias importantes da cidade, o que parece confirmado pelo fato de Paulo haver presidido a morte de Estevão. E provável que já fosse membro do concílio, At 26.10, pois que não tardou a receber comissão do sumo sacerdote para perseguir os cristãos, 9.1,2; 22.5. Os seus dizeres na epístola aos filipenses 3.4-7, autorizam-nos a crer que ocupava posição de grande influência que lhe dava margem para conseguir lucros e grandes honras. As suas relações de família não podiam ser obscuras. Apesar de receber uma educação subordinada às tradições e as doutrinas da hebraica, e de ter pai fariseu, At 28.6, ele era cidadão romano. Ignora-se por que meios havia alcançado este privilégio; teria sido por serviços prestados ao estado ou talvez por compra, e pode bem ser que o nome Paulo tenha alguma relação com o título de cidadão romano. De qualquer modo que seja, dava-lhe grande importância na sequência de seu trabalho cristão, e serviu mais de uma vez para salvar-lhe a vida. Tarso era centro intelectual do oriente onde existia uma escola famosa e onde dominava a filosofia estoica. É possível que Paulo crescesse ali sob estas influências. Seus pais, sendo como eram, fieis a lei mosaica, o mandaram logo para Jerusalém para ser educado lá. A semelhança de outros rapazes da mesma raça, tinha de aprender um ofício, que, no seu caso, foi o de fazedor de tendas, das que se usavam nas viagens, 18.3. Como ele mesmo diz, em 22.3, que foi educado em Jerusalém, para onde o mandaram, quando muito jovem. A educação consistia principalmente em fixar nele as tradições farisaicas. “Foi instruído conforme a verdade da lei de seus pais”. Teve como preceptor um dos mais sábios e notáveis rabinos daquele tempo, o grande Gamaliel, neto do ainda mais famoso Hilel. Foi este Gamaliel, cujo discurso se contem nos Atos dos Apóstolos 5.34-39, que aconselhou o Sinédrio a não tentar contra a vida dos apóstolos. Este Gamaliel possuía alguma coisa estranha ao espírito farisaico, a qual se avizinhava da cultura grega. O seu discurso já referido demonstra que ele não possuía o espírito intolerante e perseguidor, característico da seita dos fariseus. Celebrizou-se por seus vastos conhecimentos rabínicos. A seus pés, o jovem Saulo, vindo de Tarso, recebeu as lições sobre os ensinos do Antigo Testamento, porem já se vê, de acordo com as subtilezas e interpretações dos doutores, que acenderam no espírito ardente do jovem discípulo, um zelo feroz para defender as tradições de seus antepassados. Assim, pois, o futuro apóstolo tornou-se fariseu zeloso, disciplinado nas ideias religiosas e intelectuais de seu povo. Por este modo, as suas qualidades pessoais, o seu preparo intelectual, e, talvez ainda, as relações de família, preparavam-lhe posição de destaque na sociedade judaica. Aparece no cenário da história cristã, como presidente da execução de Estevão o protomártir do Cristianismo, a cujos pés as testemunhas depuseram suas vestimentas, At 7.58, quando ainda moço. A sua posição neste caso, não queria dizer que estivesse investido de funções oficiais. De acordo com os dizeres da passagem referida acima, ele apenas era consentidor na morte de Estevão.

Contudo, vê-se claramente que perseguia com ardor os primeiros cristãos. Sem duvida, entrava em o número daqueles helenistas, ou judeus que falavam o grego, mencionados nos Atos dos Apóstolos 6.9, que promoveram a acusação contra Estevão. Não erramos dizendo que o ódio de Paulo contra a nova seita já estava aceso; não só desprezava o crucificado Messias, como considerava os seus discípulos um elemento “perigoso”, tanto para a religião como para o Estado. Não é para admirar, pois, que fosse tão feroz o seu ódio a ponto de promover-lhes o extermínio pela morte. Logo após o martírio de Estevão, tomou parte ativa, dirigindo o movimento de perseguição contra os cristãos, At 8. 2, 3; 22. 4; 26. 10, 11; 1 Co 15.9; G1 1.13; Fp 3.6; 1 Tm 1.13. Fazia tudo isto guiado por uma consciência mal informada.

Era o tipo do inquisidor religioso. Não satisfeito com a perseguição devastadora que fazia em Jerusalém, pediu cartas ao príncipe dos sacerdotes para as sinagogas de Damasco com o fim de levar presos para Jerusalém quantos achasse desta profissão, At 9.1, 2. Os romanos davam largos poderes aos judeus para exercerem a sua administração interna. O governador de Damasco que obedecia a direção do rei Aretas, era particularmente favorável aos judeus, 9.23, 24; 2 Co 11.32, favorecendo por este modo a perseguição de Paulo aos cristãos.

Nota importante a observar, segundo o testemunho expresso de S. Lucas e do próprio S. Paulo, e que respirava ameaças de morte contra os discípulos de Jesus até ao momento da sua conversão, crendo que assim fazendo prestava grande serviço a Deus. Não tinha dúvida alguma, quanto à justiça da sua empresa, nem sentia desfalecimento de coração para executá-la.

Foi no caminho de Damasco que se deu a repentina conversão: Paulo e seus companheiros provavelmente iam a cavalo, como era costume nas viagens pelos caminhos desertos da Galileia para a antiga cidade. Estavam perto da cidade. Era meio-dia, o sol estava ardente, conforme At 26.13. Repentinamente uma luz vinda do céu, mais brilhante que a luz do sol, caiu sobre eles, derrubando-os, (v. 14). Todos se ergueram, continuando Paulo prostrado por terra, (9.7). Ouviu-se então uma voz que dizia em língua hebraica: “Saulo, Saulo, porque me persegues? Dura cousa é recalcitrares contra o aguilhão”, (26. 14). Respondeu ele então: “ Quem es tu, Senhor?” ao que Ele respondeu: “Eu sou Jesus a quem tu persegues”, (v. 15). Levanta-te e vai à cidade e ai se te dirá o que te convém fazer”, (9. 6); (22. 10). Os companheiros que o seguiam ouviam a voz sem nada ver, (9.7), nem entender, (22.9). Paulo sentiu-se cego pelo intenso clarão da luz, e foi conduzido pela mão dos companheiros, entrou em Damasco, hospedando-se na casa de Judas, 9.11, onde permaneceu três dias sem vista e sem comer, nem beber, orando, 9.11, e meditando sobre a revelação que Deus lhe fizera.

Ao terceiro dia, o Senhor mandou a certo judeu convertido, chamado Ananias, que fosse ter com Paulo e impor-lhe as mãos para recobrar a vista. O Senhor garantiu a Ananias, o qual tinha receio de encontrar-se com o grande perseguidor, que este, quando em oração, já o tinha visto aproximar-se dele. Portanto, Ananias obedeceu. Paulo confessou a sua fé em Jesus, recobrou a vista, e recebeu o batismo; e daqui em diante, com a energia que o caracterizava, e com grande espanto dos judeus, começou a pregar nas sinagogas que Jesus era o Cristo, Filho de Deus vivo, 9.10-22.

Tal é a narrativa da conversão de Saulo de Tarso: Ha três narrativas deste fato nos Atos; uma feita por S. Lucas, 9.3-22, outra pelo próprio S. Paulo, diante dos judeus, 22.1-16 e outra pelo mesmo S. Paulo, diante de Festo e Agripa, 26.1-20. As três narrativas combinam-se entre si, posto que nem todos os incidentes se achem em cada uma delas. Em todo caso, cada uma foi escrita com referência ao fim que o narrador tinha em vista. Em suas epístolas, o apóstolo alude frequentemente a sua conversão, atribuindo-a a graça e poder de Deus, ainda que a não descrevesse em minucias, 1 Co 9.1-16; 15.8-10; G1 1.12-16; Ef 3.1-8; Fp 3.5-7; 1 Tm 1.12-16; 2 Tm 1.9-11. Este fato, pois, é atestado pelo testemunho mais forte possível. É certo também que Jesus, não somente falou a Paulo, mas também lhe apareceu, At 9.17, 27; 22.14; 26.16; 1 Co 9.1. Não se diz de que forma; com certeza foi de modo tão glorioso, que o apóstolo conheceu logo que era o Jesus crucificado, o Cristo, Filho do Deus Vivo, que lhe falava; e ele chama a isto, “visão celestial” At 26. 19, ou um espetáculo, palavra esta empregada em Lc 1.22; 24. 23, para descrever o aparecimento de entes celestiais.

Não há lugar para dizer-se que seja ilusão de qualquer espécie. Contudo, o aparecimento de Cristo não, foi a causa da conversão de Saulo, e sim a obra do Espírito Santo no coração, habilitando-o a receber e aceitar a verdade que lhe havia sido revelada, G1 1.15, Foi o mesmo Espírito que convenceu a Ananias e que o levou a impor as mãos e a unir a igreja nascente o novo convertido. Vários racionalistas pretendem explicar a conversão de Paulo, sem tomar em conta a intervenção sobrenatural; essas opiniões são destruídas pelo testemunho do mesmo Paulo; afirmando a sua atitude de perseguidor, obedecia a motivos de consciência e que a sua mudança era devida ao soberano exercício do poder de Deus e a sua graça infinita. A frase “Dura cousa e recalcitrares contra o aguilhão”, não quer dizer que ele agia contra a sua vontade, ou que já reconhecia a verdade do Cristianismo, quer dizer antes que era insensatez resistir aos propósitos divinos. A sua vida anterior deve ser reconhecida como um período de iniciação inconsciente para a sua missão futura.

Os foros de cidadão romano, a instrução recebida nas escolas, as suas qualidades pessoais, tudo isto serviu para fazer dele um instrumento especial para a obra missionaria. Há motivos para crer que o seu espírito não tinha paz na prática do Judaísmo, Rm 7.7-25. Se assim não fora, não chegaria a compreender claramente que a salvação somente se alcança por meio da graça de Deus em Cristo. A sua experiência religiosa também teve o efeito de prepará-lo para ser grande expositor da doutrina da justificação pelos méritos de Cristo, alcançados somente pela fé. Após a sua conversão, Paulo deu início a obra da evangelização; em parte graças a sua natural energia, e também por haver Deus revelado que ele ia ser vaso escolhido para levar o seu nome diante das gentes, dos reis e dos filhos de Israel, isto é, missionário e apóstolo, At 9.15; 26.16-20; Gl. 1.15,16. Começou a sua obra nas sinagogas de Damasco com muito bom êxito, provocando contra si a perseguição dos judeus de Damasco, auxiliados pelo governador da cidade, 2 Co 11.32, de modo que foi preciso fugir. Os discípulos, de noite, o deslizaram pela muralha da cidade, metendo-o numa alcofa, At 9.23-25; 2 Co 11.33. Em vez de regressar a Jerusalém, dirigiu-se para a Arábia e de lá voltou a Damasco, Gl 1.17. Não se sabe em que lugar da Arábia ele esteve, nem quanto tempo lá se demorou, nem o que foi fazer naquele lugar. Presume-se que meditasse sobre os grandes acontecimentos de sua vida religiosa e das revelações que Deus lhe havia feito. Três anos depois da sua conversão, determinou sair de Damasco e ir outra vez a Jerusalém. Diz-nos ele que o principal objetivo desta viagem foi visitar a Pedro, Gl 1.18,19, demorando-se com ele quinze dias, não tendo visto mais nenhum dos apóstolos senão a Tiago, irmão do Senhor. S. Lucas menciona mais alguns particulares, At 9.26-29. A igreja de Jerusalém teve medo dele, não acreditando que agora fosse discípulo de Cristo. Foi necessário que Barnabé o levasse consigo e o apresentasse aos apóstolos, contando como havia visto ao Senhor e como depois em Damasco ele se portou com toda a liberdade em nome de Jesus.

Diz ainda S. Lucas que Paulo pregava em Jerusalém com o mesmo desassombro como havia feito em Damasco, empregando seus esforços para a conversão de seus velhos amigos e compatriotas que falavam o grego, 9.28, 29. Como em Damasco, estes também conspiraram contra ele. A situação ameaçadora e perigosa em que se achava, fez com que os irmãos o conduzissem a Cesareia e dali para Tarso, 29, 30; Gl 1.21. Saiu mais depressa de Jerusalém, por haver tido uma visão no templo, na qual o Senhor lhe ordenou que sem demora se afastasse dali para ir às nações de longe, At 22.17-21. As duas notícias sobre esta visita a Jerusalém, que se encontram nos Atos e há carta aos Gálatas, parecem inconsistentes, porém, harmonizam-se naturalmente. E muitíssimo provável que Paulo quisesse visitar a Pedro a fim de que o trabalho que lhe estava destinado fosse feito em harmonia com os primitivos apóstolos, dos quais Pedro se destacava. E igualmente provável que os cristãos de Jerusalém, a princípio, se arreceassem dele, e que o proceder de Barnabé, que era como Paulo, helenista judeu, fosse recebido com algumas reservas. Além disso, quinze dias de estada na cidade, e tempo suficiente para os acontecimentos descritos nos Atos. A ordem do Senhor para que Paulo deixasse logo a cidade, e de fato confirmada, (22.18). A notícia que S. Lucas dá de que Barnabé apresentou Paulo aos apóstolos, não contradiz a afirmação de Paulo de que somente viu a Pedro e a Tiago. A recepção feita ao novo converso pelo apóstolo S. Pedro, para não falar também de Tiago que ocupava posição quase apostólica, Gl 2.9, equivalia ao reconhecimento oficial do novo apóstolo, e é isto mesmo que S. Lucas queria significar. E ainda digno de nota que achava completamente confirmado, tanto por parte de S. Paulo como dos irmãos principais de Jerusalém que o novo converso havia sido escolhido apostolo, e que a sua missão iria ser entre os gentios. Nesta ocasião ainda não se cogitava das relações dos gentios convertidos para com a lei mosaica. Ninguém poderia ainda avaliar da importância e da extensão da obra de Paulo.

Contudo, foi ele reconhecido como tal e enviado a Tarso para iniciar o seu trabalho. A demora dele nesta cidade e quase um enigma; parece que foi de seis ou sete anos, durante os quais se ocupou da evangelização e provavelmente fundou as igrejas da Cilicia, incidentalmente referidas em At 15.41. Se alguma vez sentiu a influência intelectual de Tarso, esta devia ser-lhe muito propícia. Como já foi dito, Tarso era um dos centros da filosofia estoica. Em seu discurso em Atenas, S. Paulo faz apreciações sobre esta escola, suficientes a satisfazer a nossa curiosidade. Ainda que em atividade, Paulo aguardava as indicações providenciais sobre o caminho que devia tomar no serviço do Mestre. Finalmente, começaram a aparecer. Alguns dos judeus convertidos que falavam a língua grega, que haviam saído de Jerusalém, fugindo da perseguição que se seguiu a morte de Estevão, chegaram a grande cidade de Antioquia da Síria, situada as margens do Orontes, ao norte da cordilheira do Líbano. Tinha sido capital do reino e era naquele tempo a residência oficial do governador romano da província. Era contada entre as cidades principais do império, por causa de sua população mista e da extensão de seu comércio.

Situada fora dos limites da Palestina, e as portas da Ásia Menor, ligada também pelo tráfego e pela política com todo o império, servia de base natural de operações, de onde a nova fé, separada do judaísmo, sairia a conquista do mundo. Nesta cidade, os cristãos refugiados começaram a pregar aos gentios, At 11. 20. Há uma dificuldade no texto original para determinar com clareza se era mesmo aos gentios que eles pregavam; mas o contexto não dá lugar a dúvidas. Muitos gentios se converteram ali de modo a formarem uma igreja gentílica na metrópole da Síria.

Quando a noticia chegou a Jerusalém, enviaram lá a Barnabé para investigar o caso. Claramente descobriu a mão de Deus neste movimento, não obstante serem os recém-convertidos incircuncidados. Parece que ele também percebeu que Deus estava abrindo a porta aos trabalhos de Paulo, porque dali foi buscá-lo a Tarso e levou-o para Antioquia. Ambos trabalharam naquela cidade um ano inteiro. Muitos outros gentios se converteram, de modo que a nova igreja, sem vestígios de judaísmo, foi denominada dos cristãos pelos habitantes gentios da cidade. Começaram por este modo as relações do apóstolo com Antioquia. Nas páginas da história foi registada a primeira igreja cristã formada de elementos gentílicos, ponto de partida para a obra de S. Paulo no mundo pagão.

Quando S. Paulo estava em Antioquia, um profeta por nome Ágabo, vindo da Judeia, predisse na assembleia dos cristãos, que em breve haveria uma grande fome na terra. Serviu esta profecia de motivo para que os irmãos manifestassem o seu extremado amor para com os cristãos da Judeia. Este fato e prova notável do sentimento de obrigação destes gentios para com aqueles de quem haviam recebido a nova fé, e também para mostrar quão depressa haviam sido destruídos os muros de inimizade que separava as raças e as classes. Em Antioquia fizeram-se logo contribuições para aliviar as necessidades dos irmãos da Judeia, enviadas por mão de Barnabé e de Saulo, At 11.29, 30. Esta visita de S. Paulo a Jerusalém deveria ser no ano 44, ou pouco antes, e a ela não se refere na sua epístola aos Gálatas, talvez por não ter visto nenhum dos apóstolos. Alguns escritores tentaram identificar esta visita com a que se acha mencionada em G1 2.1-10; porém deu-se esta depois de discutida a circuncisão dos gentios, como se depreende de At 15. 1. O propósito de S. Paulo, na epistola aos Gálatas, foi o de contar de novo as oportunidades que ele havia tido para obter a confirmação de seu evangelho pelos apóstolos mais velhos, e se nesta ocasião, como diz S. Lucas, ele encontrou somente os anciãos da igreja, a sua rápida visita era de simples caridade, o seu argumento na carta aos Gálatas não exigia menção desta viagem. Barnabé e Paulo voltaram novamente a Antioquia, levando consigo a João Marcos, 12. 25.

Havia chegado o tempo de iniciar a história missionaria da evangelização dos gentios, indicada pelo Espírito aos profetas pertencentes à igreja de Antioquia, At 13.1-3, os quais, por ordem divina, separaram a Barnabé e a Paulo esta obra a que Deus os havia chamado. Obedecendo a direção divina e sob os auspícios da igreja de Antioquia, o apóstolo principiou a primeira viagem missionária, sem podermos determinar a data, que deveria ser entre 45 e 50, ou 46 e 48, e sem sabermos quanto tempo, durou. Barnabé, que era o mais velho, dirigia o movimento, mas Paulo, em breve, ocupou o primeiro lugar por causa de seus dotes oratórios. João Marcos entrou nesta comissão. Saíram de Antioquia para Seleucia, situada na foz do Orontes e dali para Chipre, pátria de Barnabé. Desembarcando em Salamina, na costa de Chipre, começaram a trabalhar, como de costume, nas sinagogas. Percorreram toda a ilha até chegarem a Pafos, na costa sudoeste. Neste lugar, despertaram a atenção de Sergio Paulo, procônsul romano. Saiu-lhes ao encontro, com violenta oposição, um feiticeiro judeu, chamado Barjesus, também conhecido por Elimas, o mago, que previamente havia conseguido a proteção do procônsul, At 13.6, 7. Paulo resistiu-lhe indignado e repreendeu-o severamente, e feriu-o de cegueira.

Resultou disto a conversão de Sergio Paulo, (v. 8-12). Partindo de Chipre, o grupo de missionários de que Paulo era agora o chefe, (v. 13), navegaram para a Ásia Menor e chegaram a Perge na Panfília. Ali João Marcos, por motivos ignorados, deixou os seus companheiros e regressou a Jerusalém. Os dois, Paulo e Barnabé não se detiveram em Perge, dirigiram-se para o norte, chegaram a Frígia e foram até Antioquia da Pisídia. Esta era a cidade principal da província romana de Galácia. Entraram na sinagoga judaica, e a convite dos chefes da sinagoga, proferiu o grande discurso, registado em A t 13.16-41, primeiro espécime de sua pregação de que ha notícia. Depois de narrar a missão dos chefes de Israel, com vistas ao Messias, que tinha de vir, falou do testemunho de João Batista e do modo por que Jesus foi rejeitado pelos judeus; declarou que Deus o havia ressuscitado dentre os mortos, cumprindo na sua pessoa as promessas feitas a Israel pelos antigos e que somente pela fé nele, os homens podem ser justificados. Admoestou os judeus a não repetirem o crime cometido pelas autoridades de Jerusalém. Este discurso fomentou a odiosidade dos judeus, mas impressionou a alguns outros e ainda mais aos gentios que já estavam sob a influência da sinagoga e formavam o laço de união entre esta e o mundo gentílico para o trabalho de S. Paulo. No sábado seguinte deu-se o rompimento entre a sinagoga e os missionários cristãos, de modo que estes passaram a dirigir-se aos gentios. O povo da cidade, excitado pelos judeus, levantou-se contra Paulo e Barnabé e os lançaram fora, At 13. 50.

De Antioquia passaram a Icônio, outra cidade da Frígia, onde uma copiosa multidão de judeus e de gregos se converteu a fé, (v. 51). Aqui também encontraram forte resistência da parte dos judeus incrédulos, irritando os ânimos dos gentios contra seus irmãos. Daqui passaram para Listra e Derbe, cidades importantes da Licaônia, (14.1-6). Em Listra, o apóstolo S. Paulo curou um homem coxo desde o ventre materno. O povo, tendo visto o milagre, levantou a voz dizendo: “Estes são deuses que baixaram a nos em figura de homens; chamavam a Barnabé, Júpiter e a Paulo Mercúrio.”

Este fato ocasionou o segundo discurso feito por S. Paulo, registado nos Atos, 15-18, no qual pôs em evidência a estultícia da idolatria. E quase certo que a conversão de Timóteo se deu em Listra, At 16. 1; 2 Tm 1.2; 3.11. A popularidade de Paulo durou pouco. Irrompeu nova perseguição, instigada pelos judeus, At 14.19, apedrejando-o e lançando-o fora da cidade como morto, A t 14. 19. Rodeando-o os discípulos, e levantando-se ele, entrou na cidade e no dia seguinte, partiu com Barnabé para Derbe, limite provável da província da Galácia a sudeste, 20. Seria possível para dois missionários atravessar a cordilheira indo a Cilicia, e passando por Tarso, irem diretamente de regresso a Antioquia da Síria. Fizeram também um novo circulo; não quiseram voltar antes de consolidar a existência das novas igrejas.

Portanto, passaram de Derbe a Listra, de Listra a Icônio, de Icônio a Antioquia da Pisídia, de Antioquia a Perge, organizando igrejas e animando os discípulos. Nesta cidade pregaram o Evangelho que parece não haviam feito na primeira visita; dirigiram-se ao porto de Atália e dali regressaram a Antioquia da Síria, At 14.21-26. E assim terminou a primeira viagem missionaria do apóstolo. Esta viagem compreendia todas as regiões para o lado do ocidente, já ocupadas pelo Evangelho.

O método de trabalho consistia em oferecer, em primeiro lugar, a salvação aos judeus e depois aos gentios. Encontrou o apóstolo grande número deles influenciados pelo judaísmo, e portanto, em condições de receber a nova doutrina. O seu objetivo consistia em formar igrejas nas cidades principais. As boas estradas de rodagem abertas pelo governo romano, entre os postos militares, contribuíram muito para facilitar as viagens missionarias. A língua grega, por ser geralmente falada, serviu de veículo a pregação da verdade. A Providência havia, por este modo, preparado o caminho para a difusão do Evangelho no mundo. Sobre as viagens missionarias, podem os leitores consultar Conybeare e Howson que escreveram sobre a primeira viagem de S. Paulo, Life and Epistles of St. Paul, e especialmente, em referência a primeira viagem, a primeira parte da obra de Ramsay, Church in the Roman Empire.

Os grandes resultados da obra de S. Paulo entre os gentios, provocaram serias controvérsias dentro da igreja. Certo número de cristãos, vindos do judaísmo, foram de Jerusalém para Antioquia, ensinando ali que não poderiam ser salvos os gentios convertidos a menos que fossem primeiramente circuncidados, At 15.1. Alguns anos antes, Deus havia revelado a igreja por meio do apóstolo S. Pedro, que os gentios deviam ser recebidos na igreja sem a observância das leis de Moisés, At 10.1 até cap. 11.18. Porém, os fariseus restritos, convertidos ao Cristianismo, 15.5, não se podiam conformar com esta doutrina vencedora na igreja da Antioquia, e de tal maneira perturbaram a consciência dos irmãos, que eles resolveram mandar Paulo e Barnabé, acompanhados de outros irmãos, a Jerusalém para consultarem os apóstolos e os anciãos sobre este assunto. Esta viagem e a que vem descrita no cap. 15 dos Atos e em G1 2.1-10. Ambas estas descrições são inteiramente acordes, posto que feitas sob pontos de vista diferentes. S. Paulo diz que foi lá em consequência de uma revelação divina, Gl 2.2. A situação era delicada e muito crítica. O futuro da nova religião dependia de uma resolução sabia. Dela resultou a vitória da lealdade cristã e da caridade. Paulo e Barnabé mostraram a igreja mãe o que Deus havia feito por intermédio deles.

Diante da oposição dos elementos judaicos reuniu-se um concilio dos apóstolos e dos anciãos, At 15.6-29. S. Pedro recordou o fato da conversão de Cornélio; Paulo e Barnabé relataram os fatos que se deram em sua viagem missionária; Tiago, irmão do Senhor, fez lembrar a profecia, anunciando a vocação dos gentios. Resolveram então aceitar como irmãos os conversos não circuncidados, exortando-os apenas a se absterem de certas práticas altamente ofensivas aos judeus. Diz o apóstolo na carta aos Gálatas que ele advertiu a igreja de Jerusalém contra os falsos irmãos, e também que Tiago, Pedro e Joao lhe haviam dado as mãos em sinal de companhia para que ele fosse aos gentios e eles aos judeus. Deste modo, o apóstolo manteve as relações com os outros apóstolos continuando livremente o seu trabalho missionário para o qual havia sido divinamente destinado. Quando esta controvérsia acirrou os ódios do judaísmo, pôde ver-se na subsequente perseguição contra Paulo. A sua vitória nesta questão serviu para conservar a unidade da igreja e garantir a liberdade dos gentios.

Um sábio ajustamento de ideias, de resultados práticos, conciliou os prejuízos razoáveis dos judeus, ao mesmo tempo que o caminho para a Evangelização dos gentios em todas as direções, ficou aberto e livre das cerimônias judaicas. Na carta aos Gl 2.11-21, existe rápida alusão a uma controvérsia sobre o assunto, em Antioquia, de que não há registo. Pedro tinha ido lá, e, estando de pleno acordo com as ideias de Paulo, mantinha livres relações com os gentios; mas, chegando ali alguns judeus de Jerusalém; Pedro e Barnabé como que haviam cortado relações com os gentios.

Esta maneira de proceder repreensível foi severamente condenada por S. Paulo, que ao mesmo tempo esboçou a doutrina da justificação pela fé sem as obras da Lei, porque, dizia ele, eu estou morto para com a lei pela mesma lei, querendo com isso dizer que pela morte de Cristo ficaram prejudicadas todas as obrigações impostas pela lei cerimonial. A única condição para se tornarem discípulos de Cristo, era crer nEle para a salvação. Vê-se, pois que os direitos dos gentios na igreja cristã eram para o apóstolo, mais do que uma questão de unidade: envolvia um princípio essencial do Evangelho.

Na defesa deste principio tanto como pela sua obra missionária, S. Paulo foi o principal agente para se estabelecer o Cristianismo universal. O concílio de Jerusalém se efetuou no ano 50. Não muito depois, S. Paulo propôs a Barnabé uma segunda viagem missionária, At 15.36. Nesta ocasião não quis que João Marcos fosse com eles, ficando desde ai separados os dois grandes missionários.

Desta vez acompanhou-o Silas. Primeiro visitaram as igrejas da Síria e da Cilicia; depois, passaram para os lados do norte, atravessaram as montanhas do Tauro e passaram as igrejas que Paulo havia fundado na sua primeira viagem. Foram a Derbe e a Listra. Nesta, última cidade, determinou levar a Timóteo, e o circuncidou por causa dos judeus que lá havia, impedindo por este modo que eles se escandalizassem, porque sua mãe era judia. Por este modo mostrou ele desejos de conciliar os prejuízos judaicos, e ao mesmo tempo não cedendo uma linha em questão de princípios. De Listra passou para Icônio e para Antioquia da Pisídia. Neste lugar encontrou a oposição dos filósofos. Diz Ramsay, e com ele outros, que ele seguiu diretamente para o norte, quando deixou Antioquia da Pisídia, atravessando a província romana da Ásia, porem sem pregar ali, por haver sido proibido pelo Espirito Santo, At 16.6, e tendo chegado a Misia, intentavam passar a Bitínia, (v. 7), mas foram de novo proibidos de pregar ali. Passando, depois a Misia, voltaram-se para o ocidente, e foram para Trôade. A opinião mais comum é que eles, de Antioquia da Pisídia, passaram para nordeste e foram para Galácia própria; que nesta viagem, Paulo adoeceu, aproveitando esta oportunidade, apesar de enfermo para pregar na Galácia foi fundar igrejas, Gl 4.13-15; este movimento ao nordeste foi por causa de terem sido proibidos de pregar na Ásia; terminado foi o trabalho na Galácia própria, tentaram entrar na Bitínia, sendo outra vez proibidos. E assim, adotando a primeira teoria, o apóstolo voltou para o ocidente, para Trôade. Todo este período é rapidamente descrito por S. Lucas. O Espírito estava dirigindo os missionários para a Europa. A narração dos Atos assim o indica.

Em Troade apareceu a visão do homem de Macedônia, At 16.9. Obedecendo a esta chamada, os missionários juntamente com S. Lucas, dirigem-se para a Europa e desembarcando em Neapolis; dessa forma, seguem logo para a importante cidade de Filipos. Aqui fundaram uma igreja, 16.1-40, que sempre foi cara ao coração de Paulo, Fp 1.4-7; At, 15. Aqui também, pela primeira vez, entrou em conflito com os magistrados romanos, servindo-se dos seus direitos de cidadão romano em favor de seu trabalho, At 16.20-24, 37-39. De Filipos, onde Lucas ficou, Paulo, Silas e Timóteo foram para Tessalônica. A deficiência de informações sobre o trabalho neste lugar, At 17. 1-9, e suprida pelas alusões, que a ele fazem as duas epístolas. Aquela igreja alcançou grandes resultados entre os gentios e estabeleceu com grande cuidado os alicerces da igreja, servindo-lhe de exemplo de indústria e sobriedade, provendo pelo trabalho manual, o seu sustento e o de seus companheiros enquanto ali esteve a serviço do evangelho, 1 Ts cap. 2, etc. Veio a perseguição instigada pelos judeus, e por isso os irmãos enviaram Paulo para a Bereia; deste lugar, após valiosos resultados, até mesmo dentro da sinagoga, seguiu para Atenas.

A sua estada nesta cidade foi sem resultados. O que de mais importante se deu foi o brilhante discurso por ele proferido no Areópago em presença dos Filósofos gregos, At 17. 22-31, no qual o apóstolo fez apreciações sobre as verdades que o Evangelho continha em comum com o estoicismo, e ao mesmo tempo proclamando a seu auditório os deveres que tinha para com Deus e o que deveriam crer a seu respeito. Em Corinto, onde se deteve dezoito meses, ao contrário de Atenas, seus trabalhos surtiram efeito admirável.

Travou relações com Áquila e Priscila e hospedou-se em sua casa, 18.1-3. A principio pregava na sinagoga, depois, por causa da oposição dos judeus, passou a pregar em casa de certo Tito Justo, próximo a sinagoga, (vv. 5-7). Tanto no livro dos At 18.9, 10, como na 1 Co 2.1-5, encontram-se alusões a grande ansiedade com que o apóstolo prosseguia na sua missão em Corinto, e o seu desejo ardente de proclamar o evangelho na Grécia e em outros lugares. Na Primeira Carta aos Coríntios, refere-se aos bons resultados de seus trabalhos e as muitas tentações a que a igreja de Corinto estava exposta e que desde o princípio ocasionou cuidados especiais da parte do apóstolo. As necessidades de outras igrejas também serviam de objeto a seus constantes cuidados. De Corinto, escreveu as duas epístolas aos Tessalonicenses com o propósito de advertir os irmãos contra certas doutrinas e práticas nocivas que ameaçavam a igreja. As hostilidades dos judeus continuavam. Por ocasião da chegada a Corinto do procônsul Gálio, acusaram a Paulo de violar a lei. O procônsul decidiu que a questão devia ser resolvida pelo pessoal da sinagoga, que o apóstolo não havia violado lei alguma que exigisse a sua intervenção Nesta época, o Império Romano defendia os cristãos das violências dos judeus, identificando-os com eles e deste modo o apóstolo podia continuar o seu trabalho sem embaraço algum. A missão de Paulo em Corinto e uma das mais frutíferas que a historia da igreja primitiva regista. Finalmente, o apóstolo volta-se outra vez para o oriente. De Corinto vai para Éfeso, onde não se demorou, e segue para Cesareia indo apressadamente para Jerusalém. Havendo saudado a igreja desta cidade, voltou a Antioquia, de onde havia partido, At 18.22. Assim terminou ele a segunda viagem missionaria de que resultou o estabelecimento do Cristianismo na Europa.

A Macedônia e a Acaia estavam evangelizadas. O Evangelho havia dado grande passo para a conquista do Império Romano. Depois de algum tempo em Antioquia, o apóstolo S. Paulo, talvez no ano 54, deu início a sua terceira viagem. Primeiro, atravessou a região da Galácia e da Frigia a fim de fortalecer os discípulos, (v. 23), depois vai a Éfeso. Parece que a anterior proibição de pregar o evangelho na Ásia, havia sido removida. Éfeso era a capital da Ásia e uma das cidades de maior influência no oriente. Permaneceu três anos estabelecendo ali o centro de operações, 19.8, 9; 20.31. Durante três meses ensinava na sinagoga, 18.8, e depois durante dois anos na escola de certo Tirano, (v. 9). O seu trabalho nesta cidade notabilizou-se pela riqueza de instrução, 20.18-31, pela operação de portentosos milagres, 19.11, 12, pelos resultados obtidos, porque todos que habitavam na Ásia ouviram a palavra do Senhor, 10, e ate mesmo alguns dos principais da Ásia eram seus amigos, (v. 31), também pela constante e feroz perseguição, 23-41; 1 Co 4. 9-13; 15. 32, e finalmente pelo cuidado que tinha de todas as igrejas, 2 Cor 11. 28. Este período da vida do apóstolo e rico em incidentes. Muitas cousas se deram que não se encontram nos Atos. Em Corinto, o apóstolo soube dos ataques que lhe faziam e a sua doutrina os mestres judaizantes da Galácia, o que deu origem a epístola aos Gálatas, na qual defende a sua autoridade apostólica e de os primeiros ensinos formais sobre a doutrina da graça. O estado da igreja de Corinto também lhe deu motivo a constantes aflições. Em resposta as perguntas que a igreja lhe fez, escreveu uma carta, que se perdeu, a respeito das relações dos crentes com a sociedade paga, 1 Co 5.9. Notícias posteriores dão a entender que haviam surgido dificuldades mais sérias. A primeira epístola aos Coríntios foi escrita de modo a mostrar a sabedoria prática do apóstolo; no modo de instruir e disciplinar as igrejas nascentes. Apesar disso, os elementos sediciosos da igreja de Corinto, continuaram em ação. Pensam alguns que depois de haver enviado a carta, ele próprio foi a Corinto apressadamente para corrigir os crentes indisciplinados, cp. 2 Co 12. 14; 13. 1.

E certo, porém, que antes de sair de Éfeso enviou Tito a Corinto, talvez levando instruções sobre o caso de um membro refratário da igreja. Tito deveria encontrar-se outra vez com o apostolo em Trôade. Falhando este encontro, Paulo passou para a Macedônia, muito ansioso, aonde haviam chegado Timóteo e Erasto, At 19.22. Finalmente, Tito chegou ao encontro desejado, 2 Co 2.12-14; 7.5-16, levando boas notícias: a igreja havia obedecido as instruções do apóstolo e permanecia fiel. Isto deu assunto para escrever a segunda epístola, a que contém as mais completas notas biográficas, e em que ele se regozija pela obediência dos irmãos, e da instruções sobre o serviço das contribuições destinadas aos santos da Judeia; mais uma vez defende a sua autoridade apostólica. Da Macedônia seguiu para Corinto onde foi passar o inverno do ano 57-58. Durante a sua estada, completou o serviço de organização e regulou a disciplina da igreja.

Foi ainda memorável a visita que ele fez a Corinto, porque nessa ocasião e que ele escreveu a epístola aos romanos, em que expõe com toda a clareza a doutrina referente a salvação da alma. Evidentemente, considerava a cidade de Roma como o ponto culminante de suas operações mas não podia ir já, porque tinha necessidade de voltar a Jerusalém para levar as ofertas das igrejas dos gentios a igreja mãe. O trabalho cristão já havia sido iniciado em Roma, e continuava a ser feito pelos amigos de Paulo, Rm cap. 16.

Enviou a epístola escrita em Corinto para que os cristãos da capital possuíssem instruções completas sobre o Evangelho que ele pregava em todo o mundo. Agora inicia a sua ultima viagem a Jerusalém, acompanhado de amigos, representantes das várias igrejas dos gentios, At 20.4. O trabalho do apóstolo entre os gentios sofreu grande oposição da parte dos judeus e ate mesmo de cristãos vindos do judaísmo que tentavam desprestigia-lo. Resultou dai o plano de provar a lealdade das igrejas dos gentios induzindo-as a enviar ofertas liberais aos pobres da Judeia. Foi para este fim que ele e seus amigos saíram de Corinto com destino a Jerusalém. O seu primitivo plano era de navegar diretamente para a Síria, mas uma conspiração dos judeus, o obrigou a voltar pela Macedônia, 20.3. Demorou-se em Filipos enquanto que seus companheiros caminhavam para Trôade. Depois da festa da pascoa ele e Lucas foram para Trôade, (v. 5), onde os companheiros o esperavam e onde se demoraram sete dias, (v. 6). Havia lá uma igreja. Lucas dá-nos interessante notícia do que se passou nas vésperas da partida do apóstolo, (v. 7-12). De Trôade caminhou Paulo para Assos que ficava distante cerca de vinte milhas, para onde haviam embarcado seus companheiros, (v. 13). Deste porto, navegaram para Mitilene que ficava na costa oriental da ilha de Lesbos, e costeando pela banda do sul, passaram entre a terra firme e a ilha de Quios; no dia seguinte aportaram em Samos e no outro, chegaram a Mileto, 14f 15. Esta cidade estava a 36 milhas de Éfeso, e, como Paulo tivesse pressa, resolveu não ir lá, e, por isso, mandou chamar os presbíteros da igreja. Em Mileto fez as suas despedidas de modo muito emocionante, como se lê em At 20. 18-35. Não havia palavras capazes de exprimir mais vivamente a dedicação pela sua obra e o amor que votava a seus irmãos convertidos. Partindo de Mileto, o navio seguiu diretamente a Cos, At 21. 1, nome de uma ilha situada a 40 milhas para o sul; no seguinte dia chegaram a Rodes, distante 50 milhas de Cos; de Rodes passaram a Patara, nas costas da Licia, At 21.1. Encontrando um navio que passava a Fenícia, entraram nele, e fizeram-se a vela, (v. 2). Depois de estarem a vista de Chipre deixando-a a esquerda, chegaram a Tiro, (v. 3), onde se demoraram sete dias. Inspirados pelo Espírito Santo, os discípulos instavam com Paulo para não ir a Jerusalém, (v. 4). Depois de uma afetuosa despedida, partiram para Ptolemaida, que hoje se chama Acre, (vv 5, 6), e, no seguinte dia, chegaram a Cesareia, (vv. 7, 8), aboletando-se em casa de Filipe, o evangelista.

Aqui também o profeta Ágabo, que tempo antes havia profetizado a fome, 11.28, tomando a cinta de Paulo, e atando-se os pés e as mãos, disse: “Assim atarão os judeus em Jerusalém, ao dono deste cinto e o entregarão nas mãos dos gentios.” A despeito destas alarmantes predições e das lágrimas dos irmãos, ele seguiu viagem, 21.11-14, acompanhado dos irmãos, e assim terminou a terceira viagem missionaria.

Em breve se cumpriram as palavras de Ágabo. A princípio foi bem recebido pelos irmãos. No seguinte dia a sua chegada, foi à casa de Tiago, irmão do Senhor, onde se haviam congregado os anciãos, aos quais contou todas as cousas que Deus tinha feito entre os gentios através de seu ministério. Ouvindo isto, engrandeceram a Deus. Ao mesmo tempo disseram-lhe os irmãos que muitos dos judeus que estavam entre os gentios, haviam dado más notícias a seu respeito, que punham em dúvida a sua fidelidade as leis de Moisés. Era necessário, pois, que ele desse provas visíveis que o justificassem. Aconselharam-no a que tomasse consigo a quatro varões que tinham voto sobre si, que os levasse ao templo, que se santificasse com eles e fizesse as despesas da cerimônia. A isto Paulo acedeu de bom grado porque era seu desejo agradar aos judeus. A cerimônia era pouco mais do que a que havia feito em Corinto, 18.18. Conquanto o apóstolo insistisse em que os gentios não eram obrigados as cerimonias judaicas, e nenhum dos cristãos vindos do judaísmo não mais estava na obrigação de observá-las, ele, contudo, reserva-se o direito de praticar, ou não, certas cerimônias de acordo com as circunstâncias. Este ato, portanto, não era inconsistente com o seu proceder em outras ocasiões. Mas o expediente tomado não surtiu efeito. Certos judeus da Ásia o viram no templo e deram alarme.

Acusaram-no de haver introduzido gentios no templo, amotinaram todo o povo dizendo que havia profanado o lugar santo, (21.27-29). Seguiu-se um tumulto. O povo arrastou a Paulo para fora do templo e o teriam assassinado, se o tribuno Claudio Lisias não tivesse corrido para o lugar do conflito, arrebatando a Paulo das mãos do povo e fazendo-o liar com cadeias o meteu na prisão. Paulo, com permissão do tribuno, pondo-se em pé sobre os degraus, fez sinal ao povo com a mão, para falar.

O tribuno pensou a princípio que ele era certo egípcio que tempo antes havia dado muito trabalho ao governo. Quando Paulo contou que era judeu de Tarso, consentiu que falasse ao povo, o que ele fez em língua hebraica, 22. 2. Contou a história do seu nascimento, da sua vida e da sua conversão, até ao ponto em que falou em nações de longe, quando romperam em gritos para que o matassem. Neste ponto o tribuno o mandou recolher a cidadela, e que o acoitassem e lhe dessem tormento. Tendo-o liado com umas correias, disse Paulo a um centurião: “É-vos permitido acoitar um cidadão romano e que não foi condenado?”, (v. 25).

Sabendo disto, Lisias, o mandou desatar, ordenando que o conselho dos sacerdotes tomasse conhecimento do caso. O comparecimento de Paulo perante o conselho provocou novo tumulto, At 23.1-10. O apóstolo estava agora defendendo a vida, não podia esperar justiça. Se fosse condenado, o tribuno Lisias entregá-lo-ia para ser executado. Com muita habilidade dividiu a opinião de seus inimigos; dizendo que professava ser fariseu, e queriam condená-lo por pregar a ressurreição dos mortos. Isto era verdade e, até certo ponto, prestava-se aos fins em vista. O ódio entre fariseus e Saduceus era mais forte do que os dois juntos contra Paulo. As duas seitas tomaram posições opostas. O tribuno, receando que Paulo fosse trucidado entre as duas facções, mandou que os soldados o arrebatassem das mãos da multidão e o metessem na prisão. Naquela noite, o Senhor apareceu a Paulo em visão, dizendo-lhe: “Coragem! porque assim como deste testemunho em Jerusalém assim importa que também o dês em Roma”, At 23.11. A morte de Paulo estava decretada, devendo efetuar-se de modo inesperado. Alguns dos judeus combinaram em pedir ao tribuno que mais uma vez mandasse vir o prisioneiro perante o concílio. Um filho da irmã de Paulo soube do plano e informou a seu tio que por sua vez mandou o pequeno dar notícia ao tribuno, (v. 12-22). Por este motivo, Lisias mandou aprontar forte contingente de tropas para conduzir Paulo a Cesareia, com uma carta ao presidente Félix, para que ele resolvesse o caso. Quando Felix soube que o acusado era da Cilicia, determinou que se esperasse a vinda dos acusadores. Entretanto, conservou-o em segurança no palácio de Herodes, que servia de pretório, ou residência do procurador. Passaram-se dois anos de prisão em Cesareia. Quando os judeus compareceram perante Félix, fizeram uma acusação em termos gerais, dizendo que Paulo era sedicioso, que havia profanado o templo, e queixaram-se da violência com que o tribuno Lisias o havia arrebatado das suas mãos, At 24. 1-9. A isto, Paulo respondeu com formal negação, apelando para o testemunho de seus acusadores, (vv. 10-21).

Felix estava perfeitamente informado, e sabia que Paulo não havia cometido nenhum crime que merecesse a morte. Despediu os acusadores adiando o julgamento para quando chegasse o tribuno Lisias. E mandou a um centurião que o tivesse em custodia sem tanto aperto e sem proibir que os seus o servissem. Passados alguns dias, vindo Felix com sua mulher Drusila, que era judia, mandou chamar a Paulo e o esteve ouvindo falar da fé que há em Jesus Cristo, (v. 24). O apóstolo parece ter exercido estranha fascinação sobre o procurador que tremeu na sua presença, prometendo ouvi-lo de novo quando tivesse tempo. Esperava também que Paulo lhe desse algum dinheiro em troca de sua liberdade, (25.26). O apóstolo não quis subornar o procurador, que adiou o julgamento. Dois anos depois, veio Porcio Festo substitui-lo no governo, e Paulo ainda estava na prisão, (v. 27). Os judeus esperavam que o novo governador lhes fosse mais favorável do que o tinha sido Félix. Festo recusou-se a enviar Paulo a Jerusalém para ser julgado; que estando preso em Cesareia, partiria para lá dentro de poucos dias, a fim de tomar conhecimento das acusações, At 25.1-6. Ainda desta vez nada puderam provar. Paulo continuava afirmando a sua inocência, (vv. 7,8). Festo, querendo agradar aos judeus, perguntou a Paulo se queria ser julgado em Jerusalém. Sabendo que a sua vida corria perigo se fosse ali julgado, serviu-se de seus privilégios de cidadão romano e apelou para Cesar, (vv. 9-11). Por este modo o julgamento escapou das mãos do procurador, e o prisioneiro tinha de ser remetido para Roma. Antes da saída de Paulo, Agripa II e sua irmã Berenice vieram visitar a Festo talvez por motivo de sua nomeação. O novo procurador que não era muito versado em controvérsias judaicas, e como tinha de enviar ao imperador um relatório de informações sobre o caso, contou a Agripa o caso de Paulo.

Por sua vez, o rei mostrou desejos de saber o que o prisioneiro dizia em sua defesa. Arranjaram-se as cousas de modo que Paulo comparecesse a uma assembleia destas notáveis personagens. Agripa era versado em casos de doutrina e poderia servir de muito para instruir o relatório que o procurador tinha de mandar para Roma, (vv. 12-27). A defesa de Paulo perante o rei Agripa, e um dos seus mais notáveis discursos. Nele revela as qualidades de homem de elevada educação, a eloquência de orador e firmeza de cristão. Passa revista ao seu passado a fim de provar que em todos os seus atos procurou sempre servir a Deus, e que a sua carreira como cristão, não só obedecia a uma direção divina, como ao cumprimento das profecias, At 26.1-23. Quando Festo o interrompeu, exclamando: “Tu estas louco, Paulo”, apelou energicamente para Agripa. Porém o rei estava disposto a ser simples observador e crítico do que ele julgava ser um novo fanatismo, e respondeu com uma frase de desprezo: “Por pouco me persuades a me fazer cristão”, (v. 28). Contudo estava convencido de que Paulo não tinha crime e que poderia ser posto em liberdade se não tivesse apelado para Cesar, (v. 31, 32). No outono do mesmo ano 60, Paulo foi enviado para Roma, confiado juntamente com outros presos ao cuidado de um centurião chamado Júlio, da coorte Augusta. Lucas foi seu companheiro juntamente com Aristarco de Tessalônica, 27.1,2. Lucas e quem dá o relatório desta viagem com minúcias muito particulares e admirável exatidão. Veja James Smith, Voyage and Shipwreck of St. Paul.

O apóstolo foi tratado com muita cortesia pelo centurião. Embarcando em um navio de Adrumete, chegaram a Sidom, donde partiram para a Mirra na Lícia, e achando ali o centurião um navio de Alexandria que fazia viagem para a Itália, embarcaram nele. Os ventos não eram favoráveis, e por isso foram obrigados a navegar lentamente e apenas puderam avistar a costa da Caria. Tomando o rumo sul, foram costeando a ilha de Creta, junto a Salmona; navegando com dificuldade ao longo da costa, abordaram a um lugar a que chamam Bons Portos, At 27.3-8. Havia passado o jejum do décimo dia do mês de Tisri, o dia da expiação, (v. 9), quando chegavam ao termo da viagem. O tempo continuava ameaçador. Paulo mostrou a inconveniência de continuar a viagem, mas o centurião deu mais credito ao mestre e ao piloto do navio que eram de parecer contrario e desejavam chegar a Fenix e invernar ali por ser porto de Creta, onde havia bom ancoradouro, (vv. 9-12). Mas logo que largaram de Bons Portos veio contra a ilha um tufão de vento, chamado Euro-aquilao que arrojou a nau para o sul, indo dar a uma pequena ilha chamada Clauda (a moderna Gozzo). Alijada que foi a carga, e os aparelhos do navio, correram assim durante catorze dias a mercê dos ventos para os lados do ocidente. Paulo mostrava-se animado e animava os companheiros, porque o Senhor lhe havia revelado em sonhos que nenhum deles havia de perecer, (vv. 13-26). Lançando eles a sonda, perceberam que estavam perto de terra, e, lançando as quatro ancoras, esperavam que viesse o dia. Como tivesse aclarado o dia, não conheceram a terra: somente viram uma enseada que tinha ribeira, na qual intentavam encalhar o navio. Pelo que, tendo levantado ancoras, se entregaram ao mar, e se encaminharam a praia, (vv. 27-40). O navio deu numa língua de terra; a proa afincada permanecia imóvel, ao mesmo tempo que a popa se abria com a forca do mar. Todos se lançaram as ondas; e, como Paulo havia dito, nenhum deles pereceu, (vv. 41-44).

Nesta emocionante aventura, que Lucas descreve com tanta minúcia, o proceder de Paulo ilustra muito bem a coragem de um cristão e a influência que um homem de fé exerce sobre os outros indivíduos, em tempos de perigo. A terra a que haviam chegado era a ilha de Melita que hoje se apelida Malta, situada a 58 milhas ao sul da Sicília, cujos habitantes receberam os náufragos com muita cordialidade. O procedimento maravilhoso de Paulo ganhou para ele muita honra e simpatia, At 28.1-10. Três meses depois, embarcaram em um navio de Alexandria que tinha invernado na ilha, no qual arribaram a Siracusa, onde ficaram três dias. De lá, correndo a costa, foram a Régio, e dois dias mais, aportaram a Poteoli, a sudoeste da Itália. Ali, Paulo encontrou irmãos em cuja companhia se demorou sete dias, (vv. 11-14). Entretanto a noticia chegou a Roma. Os irmãos vieram encontrá-lo a Praça de Ápio e as Três Vendas, nomes de dois lugares distantes de Roma, 43 e 33 milhas, respectivamente. O centurião entregou os prisioneiros ao capitão da guarda, que era o prefeito da guarda pretoriana, cargo este exercido nesta ocasião, A.D. 61, pelo celebre Burro. Mommsen e Ramsay pensam que os prisioneiros foram entregues ao capitão de outro corpo a que o centurião Júlio pertencia, cujo ofício consistia em superintender o transporte dos cereais para a capital e outros encargos policiais. Realmente não sabemos quem foi que tomou sobre si a guarda de Paulo. O que se pode dizer e que ele ficou sob a guarda de um soldado com licença de habitar onde quisesse, 28.16; Fp 1.7, 13.

As apelações para César eram atendidas com muita morosidade. Dois anos inteiros permaneceu Paulo em um aposento que alugara, onde recebia a todos que o queriam ver, 28. 30. E assim termina a narrativa da primeira detenção de Paulo em Roma. Os Atos dos Apóstolos concluem dizendo que, passados três dias, convocou Paulo os principais dos judeus para informá-los dos motivos de sua prisão na capital, tendo-lhe aprazado dia para dar testemunho do Reino de Deus, convencendo-os a respeito de Jesus, pela lei de Moisés e pelos profetas, desde pela manha até a tarde.

Como não o quisessem crer, declarou mais uma vez que aos Gentios era enviada esta salvação. A prisão não o impedia de exercer a sua atividade missionária, 28.17-31. As epístolas que ele escreveu neste período, iluminam mais de perto esta fase de sua história: são as epístolas aos Colossenses, a Filemom, aos Efésios e aos Filipenses.

As primeiras três foram provavelmente escritas, no princípio deste período, e a última no fim. Por elas se vê que o apóstolo tinha muitos amigos fieis em Roma, trabalhando com ele, entre os quais se contam: Timóteo, Cl 1.1; Fp 1.1; 2. 19; Fm 1.1; Tiquico, Ef 6.21; Cl 4.7; Aristarco, Cl 4.7, 10; Fm 24; João Marcos, Cl 4.10. Fm 24, e Lucas, Cl 4.14; Fm 24. Estes amigos tinham livre acesso a sua pessoa e operavam como mensageiros para as igrejas e como cooperadores em Roma. Paulo na prisão era o centro de onde irradiava a luz do Evangelho para todo o império.

As epístolas citadas põem em relevo a atividade pessoal do eminente apóstolo. Com grande zelo e apreciáveis resultados, apesar das suas cadeias, pregava o Evangelho: estando em cadeias fazia o ofício de embaixador, E f 6. 20. Pedia a seus amigos que orassem a Deus para que se lhe abrisse a porta da palavra para anunciar o mistério de Cristo, Cl 4.3. Em Onésimo, servo fugido, vemos um exemplo vivo do fruto de seu trabalho, Fm 10. A medida que o tempo corria, aumentava também o seu trabalho. Escreveu aos Fp 1.12, 13, que todas as cousas que lhe tinham acontecido haviam contribuído para proveito do Evangelho, de maneira que as suas prisões se tinham feito notórias em Cristo por toda a corte do Imperador e em todos os outros lugares. Enviou saudações dos que eram da família de César. Ao mesmo tempo sofria oposição até mesmo de alguns dos crentes, provavelmente do tipo judaico, 1.15-18, e que ele enfrentava com animo sereno, esperando ser em breve livre das prisões, Fp 1.25; 2.17, 24; Fm 22.

A detenção de Paulo serviu nas mãos de Deus para habilitá-lo a exercer com mais precisão o ofício de embaixador de Cristo. Finalmente, as epístolas provam que o apóstolo superintendia a todas as igrejas espalhadas pelo território do grande império. Na Ásia surgiram novas heresias. Nas epístolas que escreveu na prisão, forneceu as mais preciosas instruções acerca da pessoa de Cristo e dos eternos propósitos de Deus revelados no Evangelho, e ao mesmo tempo as direções praticas que elas contem descobrem a largueza do círculo em que exercia a sua atividade, e o fervor de sua vida crista.

O livro dos Atos termina deixando a Paulo na prisão em Roma. Existem abundantes provas que nos levam a crer que ao cabo de dois anos, foi solto, continuando as suas viagens missionárias. As provas referidas podem ser condensadas da seguinte forma:

(1) Os vv. finais dos Atos acomodam-se melhor com esta ideia do que, pensando que a prisão do apóstolo terminou pela condenação e morte. Lucas dá relevo ao fato de que o apóstolo pregava o Reino de Deus e ensinava as cousas concernentes ao Senhor Jesus Cristo com toda a liberdade e sem proibição, dando-nos a entender que o fim de sua atividade não estava próximo.

(2) Na epístola aos Flp. 1,25; 2.17, 24, em Fm 22, diz claramente que cedo ficaria livre. Esta esperança encontra apoio no tratamento que havia recebido dos oficiais romanos. Deve-se notar que as perseguições de Nero contra os cristãos ainda não haviam começado; que se o apóstolo fosse condenado, seria um ato sem precedentes nas relações do governo com os cristãos; que em face das leis do império, sendo os cristãos tidos como seita judaica, eram garantidos no exercício de suas crenças.

É provável também que na acusação contra Paulo entrasse algum crime contra as leis romanas. Contudo, o relatório enviado por Festo nada continha que o desabonasse, At 26. 31, nem parece que os judeus tivessem mandado algum acusador a Roma, 28. 21.

(3) Afirma a tradição que Paulo foi solto e reassumiu a sua atividade missionária, sendo mais tarde novamente preso. Clemente de Alexandria, A.D. 96, dá a entender claramente que o apóstolo chegou a ir a Espanha, quando diz que em suas viagens “chegou ao extremo ocidente.” Este fato é confirmado pelo Fragmento Muratorio, A. D. 170. Com isto concorda a história de Eusébio, A.D. 324, onde se diz que, segundo a tradição comum, depois que Paulo saiu da prisão, tendo feito a sua defesa, se entregou de novo ao ministério da pregação, e mais uma vez foi a Roma, onde sofreu o martírio. É admissível que esta evidência tradicional não seja suficientemente forte para uma demonstração absolutamente exata; porém, pertence a uma época remota e é, em si mesma, bastante forte para confirmar a evidencia contra a qual não se pode opor nenhuma outra.

4. Ninguém pode contestar que as epístolas a Timóteo e a Tito não sejam genuínas em razão da evidência interna e externa a seu favor. Ora, nenhuma delas e mencionada na história de Paulo, como a da o livro de Atos. Logo, devem pertencer a uma época posterior, o que nos leva a aceitar a tradição referida por Eusébio. Devemos, pois, acreditar que o apelo feito, do tribunal de Festo para o de Cesar, deu em resultado a sua liberdade.

Os trabalhos subsequentes somente poderão ser avaliados pelas alusões que se encontram nas epístolas a Timóteo e a Tito e pelo testemunho da tradição. Podemos supor que depois de solto, seguiu para a Ásia e Macedônia como desejava, Fp 2. 24; Fm 22. Pelo que se, lê em 1 Tm 1.3, sabe-se que ele deixou a Timóteo encarregado de cuidar das igrejas em Éfeso, indo para a Macedônia. Onde se achava, quando escreveu a sua primeira carta a Timóteo, não e fácil saber, mas ele esperava regressar, brevemente a Éfeso, 1 Tm 3.14. Pela carta a Tito, sabe-se que havia confiado a ele o cuidado das igrejas de Creta e que esperava passar o inverno em Nicopolis, Tt 3.12.

Havia três cidades com este nome, a que se pode aplicar esta referência, uma na Tracia perto de Macedônia, outra na Cilicia e a terceira, no Epiro; de modo que não podemos dizer a qual delas se refere o apóstolo. É provável, porém, que fosse a do Epiro. Se aceitarmos o que diz a tradição sobre a ida de S. Paulo a Espanha, e lícito supor que só poderia ser depois de haver estado na Ásia e na Macedônia; e que, depois de regressar da Espanha, e que ele se demorou em Creta, onde deixou a Tito, voltando para a Ásia, de onde provavelmente escreveu a carta a Tito. Sabe-se mais pela leitura da segunda carta a Timóteo, 4.20, que ele passou pela cidade de Corinto e por Mileto, uma na Grécia e outra na Ásia. Ignora-se se realizou o intento de invernar em Nicopolis.

Muitos são de parecer que ele seguiu para Nicopolis do Epiro e que ali foi novamente preso e enviado para Roma. Apesar de serem muito incertos os movimentos do apóstolo durante o final de sua existência, as epístolas neste período, dizem o bastante para sabermos que empregava a sua atividade, evangelizando novas regiões e fundando igrejas nos moldes das já existentes, perfeitamente organizadas. Sabia que pouco lhe restava de vida e que as igrejas ficariam expostas a novos perigos, tanto internos como externos. Daqui vem que as epístolas pastorais, como são chamadas, serviam de veículo para levar as igrejas as instruções apostólicas necessárias a consolidação de sua fé e equipando-as praticamente para a obra do futuro.

O livramento de Paulo, quando foi preso a primeira vez, deu-se pelo ano 63; a sua subsequente atividade durou quatro anos. Segundo Eusébio, a morte de Paulo deu-se no ano 67, e segundo S. Jerônimo, no ano 68. Qual foi o motivo de ser outra vez preso não se sabe. Na segunda epístola a Timóteo, escrita de Roma pouco antes de morrer, encontram-se alguns indícios. Devemos recordar que a perseguição de Nero aos cristãos explodiu no ano 64, seguida de outras em varias províncias do império, 1 Pe 4. 13-19. Pode bem ser, como alguns presumem, que o apostolo foi apontado como o chefe da nova seita pelo Alexandre por ele mencionado na carta a Timoteo, 2 Tm 4.14. Seja como for, foi preso e remetido para Roma a fim de ser julgado, ou por que tenha apelado para César, como fez antes, ou por ser acusado de algum crime cometido na Itália, talvez de cumplicidade no incêndio de Roma, ou ainda por causa da oficiosidade de algum procurador provincial que desejava gratificar a vaidade do tirano, enviando-lhe tão preciosa presa. Somente o seu amigo Lucas se achava com ele, quando escreveu a carta a Timóteo, 2 Tm 4.11. Alguns o haviam abandonado, 1.15; 4. 10, 16, e outros se haviam ausentado para lugares diferentes, (10. 12). A primeira vez que compareceu ao tribunal, foi absolvido, 17, continuando na prisão por algum motivo diferente. Quem sabe se, tendo sido absolvido por algum crime, ficou na prisão por ser cristão. Fala de si como prisioneiro, (1.8), e em cadeias, 16, como malfeitor, (2. 9), e estava a ponto de ser sacrificado, (4.6-8). E certo que afinal foi condenado a morte simplesmente por ser cristão, de acordo com a política de Nero iniciada rio ano 64. Diz a tradição que foi decapitado, sendo cidadão romano, na via Ostia.

Dando o esboço biográfico do apóstolo, referimo-nos ao testemunho dos Atos e das epístolas. Não devemos, contudo, ignorar que muitos outros fatos se deram durante a sua carreira ativa e fecunda. A alguns destes fatos, encontram-se alusões em varias epístolas, Rm 15. 18, 19; 2 Co 11. 24-33. Os fatos bem averiguados da sua vida, conforme o testemunho das epístolas, revelam claramente o caráter do grande apóstolo e o valor supremo de sua obra. E difícil esboçar todas as linhas de seu caráter versátil. Era por natureza intensamente religioso: a sua natureza obedecia inteiramente a esta influência, quando fariseu, e muito mais depois da sua conversão. Dotado de alto vigor intelectual, apreendia todo o valor da verdade, e logicamente obedecia a todas as suas injunções. A verdade dominava-lhe o coração e a mente. As emoções que ele produzia eram tão ardentes quanto vigorosos os processos lógicos de seu raciocínio. Ao mesmo tempo, os aspectos práticos da verdade, ele os via com a mesma nitidez como o seu lado teórico. Se por um lado, tirava conclusões lógicas das suas ideias doutrinais, por outro, aplicava o Cristianismo a vida prática com a sabedoria e compreensão de um homem de negócios. Era intensamente afetivo e às vezes extático em suas experiências religiosas, sempre progressivo nas suas exposições da verdade, capaz de remontar-se as mais elevadas culminâncias do pensamento religioso e de vida e movimento a verdade pela qual se batia. A flexibilidade de caráter, a intensidade de espírito, a pureza de sentimentos, a vida espiritual, o vigor mental, dotes estes governados pelo Espírito de Deus, habilitaram o apóstolo para a obra que a Providência Divina lhe havia destinado. Esta obra consistia em interpretar ao mundo gentílico por meio da palavra falada e escrita, e por atos sobrenaturais, a missão de Cristo e a mensagem de salvação que ele trouxe. O modo prático de realizar esta obra encontra-se bem descrito nos Atos dos Apóstolos.

Por meio de sua ação inteligente estabeleceu-se no mundo a catolicidade do Cristianismo, independente do ritualismo judaico e adaptável a todo o gênero humano, como bem o confirma a história. Outros obreiros colaboraram neste mesmo trabalho, porém só ao apóstolo S. Paulo foi divinamente confiada esta missão especial; a ele, mas do que a qualquer outro, se devem as conquistas do Evangelho no mundo. E verdade que tudo isto se efetuou de acordo com os propósitos divinos. Mas os que estudam a história do Cristianismo devem reconhecer na pessoa de Paulo o agente principal desta grande obra. Por outro lado, as epístolas de S. Paulo expõem de modo claro, a palavra de Cristo, dão-nos a interpretação doutrinária e ética das doutrinas e das obras por ele realizadas e que serviram ao grande apóstolo para auxilia-lo no exercício de sua grande atividade; sem isto, o Cristianismo não teria existência permanente nem exerceria tão profunda influencia. Deve-se, pois, ao apóstolo das gentes que devemos admirar como grande teólogo. A sua teologia reflete a experiência peculiar de sua conversão. Por meio da repentina transição que se operou na sua vida religiosa, chegou a conhecer que era impossível salvar-se por si mesmo, e que o pecador depende exclusivamente da graça soberana de Deus, e da obra redentora de Jesus, o Filho de Deus, por meio de sua morte e ressurreição. Segue-se dai que, somente pela união com Cristo por meio da fé, e que o pecador poderá ser salvo. A salvação consiste na justificação do pecador que só Deus faz, baseada na obediência de Cristo, participando de todos os benefícios espirituais, tanto internos como externos, no céu e na terra, adquiridos para ele. O Espírito Santo deu a Paulo a intuição necessária para lançar como fundamento de todo o seu trabalho, a verdade e a pessoa de Cristo. Nas epístolas aos Gálatas e aos Romanos, o meio de salvação acha-se plenamente elaborado, nas epístolas que escreveu nas prisões, encontram-se a exaltação da dignidade de Cristo e a inteira e completa demonstração dos fins e propósitos divinos em referência a igreja de Cristo. Além destes assuntos fundamentais, ele traça as linhas características do dever e da verdade cristã. A sua teologia predileta e a que fala da graça, cujas profundezas ilumina; interpreta o Messias hebreu, ao mundo gentílico; ergue-se para explicar a doutrina do Salvador, em que ele creu e a obra redentora por ele realizada. Paulo teve a primazia como professor de teologia, e ao mesmo tempo salientou-se como o mais agressivo de todos os missionários. É impossível compreender o Cristianismo, sem os ensinos e as obras de Cristo e a interpretação fornecida pelo apóstolo S. Paulo.

Cronologia da vida de Paulo. Conquanto a ordem dos acontecimentos da vida de S. Paulo e as datas relativas das suas epístolas sejam em grande parte bem claras, existem contudo algumas divergências quanto aos anos em que se deram os fatos e em que foram escritas as epístolas. Nos Atos dos Apóstolos existem duas datas rigorosamente exatas, que são a data da ascensão de Cristo no ano 30, (posto que alguns dizem que é 29), e da morte de Herodes Agripa, At 12.23, que todos admitem ter sido no ano 44.

Contudo, nenhuma delas serve para determinar com absoluta certeza a cronologia da vida de Paulo, que depende principalmente de assinalar a data da posse do procurador Festo no governo da Judeia. Segundo a opinião mais geralmente aceita, que e a mais provável, Festo tomou posse do governo no ano 60, 24. 27. Josefo diz que quase todos os acontecimentos que se deram na Judeia durante o governo de Felix, se efetuaram no reinado de Nero, que começou em outubro do ano 54. S. Paulo em sua defesa perante Felix diz: “Sabendo que tu és juiz desta nação muitos anos há, com bom animo satisfarei por mim”, (v. 10). Em vista do que, a prisão de Paulo quando compareceu diante de Felix, não podia ser antes do ano 58. Paulo esteve dois anos na cadeia de Cesareia, e por isso a substituição de Felix deveria ter sido no ano 60 e não depois; porque no ano 62 o procurador Festo era substituído por Albino, sendo certo, pois, que ele governou mais de um ano. Se Festo tomou posse do cargo no ano 60, Paulo deveria ter seguida para Roma no outono desse ano, chegando a Roma na primavera do ano seguinte depois de passar o inverno em viagem.

Portanto, a narrativa final dos Atos e o provável livramento de Paulo, quando pela primeira vez esteve em Roma devem ser datados do ano 63, (28.30). Os acontecimentos da vida de Paulo, anteriores a esta data, precedem ao governo de Festo começado no ano 60. Sendo assim, a prisão de Paulo deu-se no ano 58, dois anos antes, At 24. 27, isto e, no fim da terceira viagem missionária. O inverno que precedeu a sua prisão, passou-o ele em Corinto, 20.3, e o outono anterior, na Macedônia, (v. 2), e antes desta época demorou-se três anos em Éfeso, 31, para onde havia ido, quando deixou Antioquia, depois de uma rápida excursão pela Galacia e pela Frigia, 28. 23. Conclui-se pois, que na terceira viagem gastou quatro anos. Se ele foi preso em Jerusalém na primavera do ano 58, segue-se que começou esta viagem na primavera do ano 54. A terceira viagem foi iniciada pouco depois da segunda, .23, talvez dois anos e meio, visto que. ele se demorou dezoito meses em Corinto, 11, e que os fatos precedentes teriam consumido mais um ano, 15.36 até cap. 17.34. Portanto, se a segunda viagem terminou no outono de 53, provavelmente começou na primavera de 51. A segunda viagem começou alguns dias, 15.36, depois do concílio de Jerusalém que se efetuou no ano 50. A primeira viagem missionária não poderia realizar-se senão entre o ano 44, em que morreu Herodes, cap. 12, e o ano 50, em que se deu o concílio, cap. 15. Poder-se-á, pois, dar-se o período de 46-48, não sendo provável que gastasse tanto tempo.

Para determinar a data da conversão de Paulo, precisamos combinar os cálculos acima referidos com o que diz a epístola aos Gálatas. Diz ele no cap. 2.1: “Catorze anos depois subi dali, outra vez, a Jerusalém com Barnabé.” Esta visita não pode ser outra senão a que ele fez para assistir ao concílio no ano 50. Mas desde quando começou ele a contar estes catorze anos? Segundo alguns comentadores, devem ser calculados desde a data de sua conversão, mencionada em Gl 1.15, no ano 36 ou 37, segundo o modo de contar os catorze anos, incluindo ou excluindo o primeiro deles. Mas em Cl 1.18, Paulo nota que ele visitou Jerusalém três anos depois de ser convertido. E mais lógico datar os catorze anos, mencionados em Gl 2.1 desde o fim dos três anos prévios. Neste caso, de qualquer modo que se faça o cálculo, a conversão deu-se no ano 33 ou 35. Esta mais de acordo com o sistema hebraico de calcular incluir o ano anterior, e por isso podemos dizer que a conversão se deu no ano 35 e que sua primeira visita a cidade de Jerusalém, G1 1. 18, foi no ano 37, e que os catorze anos depois, 2. 1, vão ao ano 50. Como já dissemos, todas estas datas são discutidas. Alguns dão o ano 55 para a posse de Festo, e, portanto, alteram todas as outras datas em cinco anos para menos. Outros críticos divergem em certos pontos especiais, como, por exemplo, a respeito da morte do apóstolo, dizendo que foi no ano 64, supondo ter sido no primeiro ano da perseguição de Nero.

Outros estudos sobre o apóstolo Paulo:

Cf. PAULO — Significado dos Nomes Bíblicos
Cf. Apóstolo Paulo — Zeloso pela Justiça
Cf. O Apóstolo Paulo era Contra as Mulheres?
Cf. Apóstolo Paulo — Perseguição, Conversão e Ministério
Cf. Cronologia da Vida do Apóstolo Paulo
Cf. A Escolha de Paulo como Apóstolo
Cf. Apóstolo Paulo — Origens dos Ensinos
Cf. A Autoridade de Paulo